Parte 1
Com o falecimento do pai, ficou um vazio dentro de mim, um buraco. Continuei frequentando o Centro Espírita e logo abriu vaga para trabalhar como médium. O que o médium kardecista faz? Aprendi no 1º dia que as pessoas que morrem ficam perambulando por aí e o espírito delas vai até o centro espírita e incorpora no corpo do médium. Quando isso acontece, o dirigente da mesa conversa com o espírito perguntando o que aconteceu, o espírito diz que não sabe onde está, não sabe o que está acontecendo, que está com dor em tal lugar, que estava dirigindo e depois não lembra de mais nada, que saiu de casa e não voltou mais, então na conversa o dirigente diz que a pessoa morreu e ele pergunta se ela quer ir para o hospital espiritual, que lá vão cuidar dela. O espírito não aceita a morte, então o dirigente acalma ele e o convence de ir para o hospital. Esse hospital é onde os espíritas dizem que a pessoa vai ser tratada espiritualmente e vai se desenvolver para depois entrar em outro corpo e ter uma nova vida. Os espíritas acreditam em reencarnação, ou seja, tem várias vidas e cada vida ela vai evoluindo, não acreditam em salvação. Ok, esse foi meu primeiro dia e eu tive uma pequena experiência, eu parecia um balão, uma bexiga cheia, falaram que era assim, começava desse jeito, com essa sensação.
No segundo dia, enquanto a reunião não começava, eu fiquei lendo os livros que estavam na mesa e fazia comparações com os livros evangélicos, fiz perguntas para as demais pessoas do grupo, mas ninguém respondia, eles mudavam de assunto ou abaixavam a cabeça. Essa vez eu senti dores no corpo, então falaram que eu estava começando a ficar sensível à necessidade dos espíritos e que meu corpo era para isso mesmo, tirar o que era ruim deles para que eles pudessem ficar bem, porque o trabalho do médium é socorrer os espíritos perdidos. Então pensei: ''nossa, mas tem tanta gente viva lá fora e a gente aqui fica ajudando quem está morto?''.
No 3º dia houve uma aula prática para conhecer os espíritos obsessores, ou seja, espíritos que fazem mal às pessoas. Então o dirigente chamou alguns médiuns e cada médium ofereceu o corpo para receber um tipo de espírito obsessor. Tinha lá o espírito que não saía da casa da pessoa, ele queria cuidar dela, não deixar se relacionar com ninguém, é apegado a pessoa e dizem que este era um espírito do passado, marido que morreu por exemplo. Tem o obsessor deprimido, por exemplo, e ele deixa a pessoa triste, sensível, influencia ela. Tem o vingador, que quer destruir com a vida da pessoa que fez algo com ele quando estava vivo. Tem vários obsessores, mas entenda uma coisa: o espírita acredita que quando alguém morre, o espírito da pessoa fica andando por aí e perseguindo quem viveu com ele ou busca por lugares que gostava antes, como bar, prostíbulo. Eles acreditam nisso. Então, a aula foi assim e eu fiquei pensando ''que estranho...o espírito pode então falar o que quiser e eu tenho que acreditar? E se ele está fingindo, encenando, será que não tem ninguém mais poderoso do que ele pra resolver essa situação? Se ele é do mal, como vou levar a sério o que ele fala? Pode muito bem inventar o que quiser. Não tem um espírito melhor do que eles para ensinar?''. Depois na reunião o dirigente perguntou quem queria receber o Preto Velho, que eles mostram ser um vovozinho bom, um espírito evoluído e de cura. Eu levantei a mão e fui. Não sabia o que fazer e o dirigente falou que não precisava fazer nada, que logo o espírito ia tomar meu corpo. De repente comecei a ficar corcunda, a andar com dificuldade, mas ainda estava consciente, achei que eu mesma estava forçando aquilo para não passar vergonha na frente dos outros, porque eles falavam que quem tinha coração duro não podia receber espírito, só que depois não sei o que aconteceu, porque eu já estava no final da sala e não lembrava de como tinha andado até lá, ou seja, incorporei mesmo. Teve uma vez que o dirigente falou do Papa, que é um espírito do mal muito inteligente, engana muito bem e eu fiquei pensando ''não é possível! Será que não tem alguém mais forte do que o mal? Como vou me proteger desses espíritos poderosos?''.
Eles acreditam em Jesus, tem até uma imagem Dele lá, mas dizem que ninguém tem acesso e nem pode falar com Ele, somente os espíritos superiores; não creem que Jesus é filho de Deus, mas apenas um espírito evoluído, um exemplo moral.
No meu 4º dia, observei como o dirigente tratava os médiuns e não gostei daquilo, eu também percebi que estava me sentindo presa naquele lugar, era uma opressão, não era prazeroso e a minha vida continuava ruim. Quando começou o trabalho e os médiuns a incorporar um de cada vez, eu vi o rosto de Jesus na sala, eu vi várias vezes, sabe quando a gente olha para uma imagem e olha numa parede branca e essa imagem fica aparecendo várias vezes? Foi assim, então eu comecei a querer Jesus, eu pensava em Jesus, dentro de mim eu queria Ele, dizia Jesus Jesus Jesus Jesus Jesus...era um desespero, uma sede, uma inquietação, mas ninguém sabia, ninguém percebeu. Não tive nenhuma experiência essa noite e a dirigente não gostou muito, ela falou que preciso relaxar, me concentrar e não pensar em nada.
Voltei pra casa e no dia seguinte fui fazer algo com minha mãe e ela comentou que eu estava ficando estranha, tratando ela mal, que era melhor eu sair do centro. Então comentei com ela algumas coisas, disse que não gostei do jeito que as pessoas se tratavam lá e disse que ia sair sim, porque estava ficando igual. Quando liguei para a dirigente, ela não gostou, porque existia uma opressão, uma cobrança, eles diziam que muitos começam como médium e depois não aguentam, tipo assim ''fracote'', mas eu não queria nem saber, não importa o que iam pensar de mim, eu queria sair dali.
Bom, era uma vez por semana o encontro e eu fui 4x, ou seja, fiquei 1 mês como médium só. Eu não lembro qual foi o dia, mas teve uma vez que eu estava voltando pra casa e não sabia onde ligava o farol...é que eu sempre dirigia com o pai. Nisso passou uma moça na rua e eu perguntei se ela sabia onde acendia, ela olhou e não achou também, mas disse que morava ali pertinho e o porteiro do prédio podia me ajudar. Ela entrou no carro e falou: ''Moça, Jesus quer te conhecer. Você tem uma bíblia? Leia os evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas, João, Deus vai falar com você. Eu sou da igreja tal, vai lá um dia". Eu não levei a sério e até achei chato ela ficar falando essas coisas...escutei ela, mas não dei bola. Sobre o farol, o porteiro também não achou, então voltei pra casa devagar com o pisca alerta. Cheguei, perguntei pro meu irmão e ele mostrou o botão, estava num lugar bem fácil...
Eu não tinha uma Bíblia, mas eu lembrei que minha avó tinha uma bem grande que ficava aberta no meio lá na sala dela, então pedi emprestado e comecei a ler, mas não entendia nada. Li uma parte de Mateus, não entendi e fui para Marcos, vi que era parecido, então fui pra Lucas e vi que era semelhante também, achei um absurdo, pensei ''até na Bíblia tem enrolação, ficam falando a mesma coisa só pra deixar o livro grosso''. Devolvi a Bíblia pra vó.
Minha mãe percebeu que eu necessitava de umas aulas práticas na autoescola. Eu já tinha tirado carteira, mas era insegura, tinha alguns medos e então comprei 4 aulas para resolver minhas dificuldades. Lá na autoescola percebi uma moça diferente, um brilho diferente e toda vez que eu via ela, pensava em Jesus. Eu queria ser como aquela moça, ela tinha algo especial. Desconfiava que ela era evangélica, então perguntei se era e ela confirmou, perguntei a igreja que frequentava e ela disse qual. Quando cheguei em casa pesquisei na internet e achei uma bem próxima.
Nessa época, eu tinha muitos conflitos. Gostava do ensinamento do espiritismo e gostava dos evangélicos, então digitei no google: ''é possível ser espírita e evangélico?'', nessa busca achei o testemunho de um moço que foi médium kardecista por 20 anos e depois virou evangélico. Tudo o que tinha no testemunho dele, estava acontecedo comigo, então enviei um email e ele logo respondeu. Fiz muitas perguntas, queria entender sobre as visões que eu tinha e escrevi emails enormes, muito grandes e ele respondia rapidinho explicando tudo e escrevendo bastante também. O que ele dizia fazia sentido, eu entendia, era claro, então falou que agora eu precisava frequentar uma igreja e aceitar Jesus como Senhor e Salvador. Comentei com ele da moça da autoescola e ele falou para eu ir na igreja dela. Então eu anotei o horário da reunião de domingo a noite e fui lá, fui sozinha.
Continua aqui Parte 3
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